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Olaria Negra de Bisalhães

Método de Cozedura da Olaria Negra de Bisalhães declarada Património Imaterial da UNESCO

Era sábado de manhã bem cedo 4:30h fui até há aldeia de Bisalhães, concelho de Chaves, Vila Real, perceber como ainda se coze o barro de modo artesanal exatamente como se fazia há muitos anos atrás.

Ao chegar ao local eram 06:30h, mesmo cedo fui a última a chegar, já lá estavam todos da família para ajudar: pais, filhos, primos, amigos e irmãos, juntos para colocar as peças no forno. 

Esta técnica de fazer com que o barro fique negro é bastante antiga pelo que se sabe, desde o séc. XIII quando um oleiro de Gondar casou em Lordelo e assim começou espalhando-se por Vila Marim, Mondrões e depois Bisalhães, disse-me o Miguel oleiro mais novo com 42 anos, neste momento quase único na aldeia a fazer o barro desta forma, tal como os avós oleiros também faziam.

Este método de cozedura do barro é feito ao ar livre, onde já existia um forno a céu aberto na terra.

Aos poucos foram sobrepondo as peças apenas secas ao sol e uma a uma se foram amontoando no forno.

Por baixo fez-se uma fogueira com caruma (eles aqui chamam-lhe musgo) a arder lentamente.

Entretanto colocou-se também por cima caruma verde a arder e novamente por baixo mais caruma e giestas secas. Neste momento uma fogueira já ardia junto com as peças com grande intensidade.

Quando acharam que já tinham queimado o suficiente, muito rapidamente sobre as peças puseram caruma seca, e logo por cima e em toda a volta terra da anterior cozedura, até ficar apenas no cimo um buraco um “olho” /“chaminé”, sendo o único local por onde saía o fumo, diziam eles que era uma espécie de respiro para limpar algum lixo que poderia ter ficado entre as peças e que se deveria ouvir um barulho (“ronco”), que o forno tinha que roncar. As lavaredas e o fumo a passar entre as peças dentro do forno é que faziam esse barulho.

Por fim tapou-se esse buraco e a frente do forno também com terra. Eram 09:30h.

Diziam eles: “não se sabe como as peças poderão ficar”, era um segredo.

O que dá a cor negra às peças é o abafamento com a caruma e a terra da anterior cozedura, ou seja, a inexistência de oxigénio e o fumo que fica no interior do forno.

Sabedoria dos antigos que muitas vezes sem saber ler ou escrever eram extremamente sábios e engenhosos nas suas artes.

A cozedura demorou duas horas e trinta e durante esse tempo era necessário de vez em quando ir ver o forno pois podia cair alguma terra para dentro e colocar em risco a cor das peças, que podiam ficar com manchas ou estragadas.

Passado esse tempo era meio-dia, fomos ver o “segredo”. Destapou-se a terra e lentamente começou-se a tirar as peças.

Agora entendo porque fomos tão cedo, devido ao calor intenso que faz o forno ao tirar as peças. Quase não se conseguia respirar com o calor e a cinza.

Terminámos por volta das 15h.

Não era necessário fazer mais nada. Depois de arrefecidas, estavam prontas a usar. Pensava que ia sujar as mãos ao tocar nas peças mas não.

Dizem que o que é cozinhado nelas tem outro sabor.

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